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Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Rennan Setti

No último domingo de março, mais de 500 pessoas correram da Praia do Pepino, em São Conrado, à UPP da Rocinha, em um trajeto de 6,5 km, com ladeira íngrime e sob sol forte. Mas foi por uma boa causa: todo o valor arrecadado com as inscrições seria convertido em cestas básicas para a comunidade, e uma quadra esportiva em frente à linha de chegada seria inteiramente reformada.

Quase três meses depois, ninguém recebeu qualquer cesta básica, e organizadores e fornecedores têm cerca de R$ 400 mil a receber. A quadra foi de fato reformada, mas o pagamento pela obra não foi concluído. O calote total é de aproximadamente meio milhão de reais, segundo fontes que acompanham o caso.

A devedora é a empresa que, há meses, vem deixando viajantes, hotéis e companhias aéreas de todo o Brasil na mão: a Hurb.

A companhia de João Ricardo Mendes — o CEO que voltou ao cargo mesmo após debochar, xingar e expor dados de um cliente — foi a única patrocinadora da chamada Subida da Rocinha. Sua marca estava por todo lado em um evento que atraiu 530 inscritos — que pagaram R$ 131 para correr — e mobilizou uma equipe de 287 pessoas, além de mais de uma centena de agentes públicos. Os organizadores da corrida estimam que o retorno do evento em “mídia espontânea” foi da ordem de R$ 6,9 milhões.

Mas a Hurb só pagou parte do que devia aos organizadores. A Spiridon, empresa contratada para montar a corrida, diz que tem ainda cerca de R$ 200 mil a receber. O valor deveria ter sido quitado uma semana após o evento, no comecinho de abril. O período coincidiu com a eclosão da crise da agência de viagens: na segunda semana daquele mês, hotéis de todo o país decidiram simplesmente parar de receber novos hóspedes da startup carioca por falta de pagamento.

— Outros fornecedores da corrida têm por volta de R$ 150 mil a receber. Durante todo esse tempo, a Hurb vem adiando o pagamento a cada semana. O CEO que acaba de sair, Otavio Brissant, visualizava as mensagens, mas não respondia. O João (Mendes) não chega nem a visualizar… — queixa-se João Traven, diretor da Spiridon, que também organiza a Maratona do Rio.

Por causa do atraso nos pagamentos, as 500 cestas básicas que haviam sido prometidas aos moradores da Rocinha também não foram distribuídas até agora.

Empresa diz que ‘honrou com a maior parte’

Procurada pela coluna, a Hurb disse que “reconhece os problemas enfrentados nas últimas semanas, mas reforça que conduz de forma individualizada um diálogo com cada parceiro para sanar toda e qualquer pendência.” Mas, apesar de ter sido confrontada com a informação dada pelos fornecedores, a companhia sustenta que “já honrou com a maior parte de seus compromissos junto a fornecedores e parceiros da Corrida da Rocinha.”

A dificuldade para honrar até programas filantrópicos é mais um sintoma de que, embora a Hurb tente equacionar seus passivos junto aos bancos, seus problemas de caixa atingiram níveis críticos. Nos últimos dias, a companhia atrasou os salários de funcionários e até dos cerca de 400 profissionais que demitiu recentemente.

A empresa está proibida pelo Ministério da Justiça de vender pacotes com datas flexíveis, que eram sua principal fonte de receita até então.

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